Modelo foi introduzido de maneira "muito precipitada" nas escolas secundárias - Joaquim Azevedo
Lusa16 Mar, 2012, 15:44
O presidente da Universidade Católica do Porto, um dos impulsionadores do ensino profissional em Portugal, criticou hoje "a maneira muito precipitada" como este modelo de ensino foi introduzido na generalidade das escolas secundárias.
"Muitas escolas não sabem o que é o ensino profissional, não têm nenhuma cultura de ensino profissional e, assim, encaram-no como "o quarto escuro” para os meninos que se portam mal, que têm insucesso ou, como eu costumo dizer, como `um caixote do lixo` que está ali à mão", lamentou Joaquim Azevedo.
O presidente da Católica do Porto falava à Lusa no âmbito do seminário "O Ensino Profissional, a Capacitação das pessoas e o Desenvolvimento do País -- os novos desafios", organizado pela Faculdade de Educação e Psicologia.
Joaquim Azevedo, criticou, nomeadamente, que se façam transitar de ano alunos que não têm aproveitamento para que sigam para o ensino profissional.
"Isso é dramático e é isso que tem de ser corrigido", afirmou, salientando, contudo, a existência de cursos profissionais em algumas escolas secundárias que "estão a correr muito bem, porque desenvolveram dentro de si uma cultura para o ensino profissional".
O especialista em educação referiu, a propósito, várias investigações de alunos de mestrado e doutoramento sobre como foi lançado e como está a ser desenvolvido o ensino profissional nas escolas secundárias.
"Temos verificado que, sistematicamente, aparecem essas circunstâncias: desinteresse da escola, desmotivação, canalização para as segundas, terceiras e quartas escolhas. Isso é que é mau e tem de ser revisto rapidamente. Escolas que não tenham essa cultura não devem ter cursos profissionais", considerou.
Joaquim Azevedo defende, por isso, um "acompanhamento e uma avaliação rigorosos" da atual situação.
Em seu entender, para que este modelo de ensino recupere o sucesso que manteve durante mais de 20 anos e continue a manter na generalidade das escolas profissionais, é preciso "rever a rede, colocar os atores locais em articulação, não deixar que haja sobreposição de ofertas".
"Há sempre essa tendência de criar soluções administrativas nacionais, de apresentar modelos completamente fechados, rígidos para todo o país. No ensino profissional não pode acontecer, a solução tem de ser encontrada município a município", disse.
Segundo o professor, "o sucesso do modelo de ensino profissional é evidente, é tão evidente que agora o queremos expandir para todo o ensino secundário e para todo o tipo de escolas. Eventualmente, se tivéssemos investido menos em betão e em alcatrão e mais na qualificação destes jovens, o país hoje estaria mais rico".
Para o futuro, Joaquim Azevedo insiste "num trabalho concertado entre as várias instituições, as várias ofertas e os vários ministérios. É preciso redefinir, rever, articular, não criar espartilhos nacionais, fazer com que localmente se encontrem as melhores respostas e que todos tenhamos o foco nos alunos".
"Todas as escolas em que se verifique que aquilo que está a ser oferecido ao aluno é “o quarto escuro” ou o “caixote do lixo” tem de se encerrar de imediato", defendeu.
Fonte: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=536356&tm=8&layout=121&visual=49